Página 1

1. O autor, a música e a rádio

  Como trabalham os nossos ouvidos?
Qual é o papel duma playlist numa rádio?
Quem escolhe a "música"?

Três ou quatro "programadores" (um por cada rádio) "seleccionam" o que as rádios de maior audiência deixam ouvir.

Curioso, bastante curioso: mais de oitenta por cento do som é coincidente. Em nome da eficácia restringe-se, de forma significativa, o leque do que é "permitido" escutar.
Alguém ganhará com esta escolha?
Quem?

Há muitos anos , até 1974, havia a censura oficial patrocinada pelo Estado.
Quem patrocina actualmente a ocultação ?  
A resposta não é linear. Muitos interesses se cruzam numa lógica que tende para a uniformização das mensagens.
Nesta aldeia global, há poderes que se apropriam do sentido ético e estético.
Hoje, nos grandes meios de comunicação ,desaparece o autor do ready-made e a ocultação da música é muito superior à de outrora.
Mas a música é apenas um dos grãos retidos pelo filtro...

 

2. Música na rádio: o mesmo que publicidade?

É evidente que a "playlist" é apenas um sinal.
Um indício de controlo, centralização e, simultaneamente, da falta de confiança das direcções das rádios, na capacidade dos animadores ,que têm ao seu serviço, para cumprirem com eficácia a estratégia da estação.

A prática da maioria das rádios, no que se refere à música, tende para a uniformização e para a exclusão da diversidade e consequentemente para a repetição e saturação.

Numa sociedade que se afirma democrática, pluralista e aberta exclui-se o plural e a diferença.capa de cd
Numa sociedade em que o discurso da inovação é incentivado, a prática aponta no sentido oposto.

  O argumento utilizado é o de que a maioria das pessoas prefere aquele tipo de música e não outro. Argumento que, dizem, se baseia em estudos de mercado. Mas como pode um cidadão dizer que gosta de um músico que nunca ouviu e que as rádios nunca divulgaram? Como pode alguém pronunciar-se sobre o que não conhece?

Hoje o espaço para a música, nas grandes rádios ,é ocupado quase sempre pelos mesmos artistas, fechando portas a novos valores ou, até mesmo, a antigos que se afastem do "mainstream". Só depois de atingir um considerável volume de vendas , um artista, tem direito a exposição radiofónica.

                                                                                                                                continua